Correu desenfreada, descalça pelo chão de terra, com
os cabelos soltos ao vento agreste do fim do dia.
Quando já não tinha mais forças, deixou-se cair
naquela terra avermelhada, como o sangue que agora lhe corria com tamanha
intensidade nas veias, parecia que ia rebentar.
Tinha ouvido perfeitamente bem, a proposta que
ouvira, incluía vendê-la ao homem das barbas e este assegurava que o resto da
família chegava em segurança à Europa.
O que deveria fazer, aceitar o seu destino,
entregar-se aquele homem muito mais velho e garantir que a sua família
conseguiria começar uma vida nova na Europa? Ou desaparecer e procurar ela uma
nova vida longe de todos?
Ficou ali, deitada no chão, tipo boneca abandonada.
Deve ter adormecido, pois acordou com os primeiros
raios de sol a bafejarem o seu rosto de tês morena e custou-lhe despertar para
a realidade em que se encontrava.
Era ainda muito cedo, o sol estava a despontar
no horizonte ainda em tom alaranjado. Nhaíla levantou-se decidida, ajeitou a
túnica verde e bordada a dourado, sacudiu-lhe o pó e amarrou o cabelo com o
elástico que trazia no pulso, tinha tomado uma decisão, já tinha quinze anos e
não ia ser moeda de troca.
De regresso à sua tenda, encontrou todos em sono
profundo, deviam ter adormecido tarde, pois deviam ter andado à sua procura -
pensou e sorrateiramente, retirou umas moedas da bolsa que o pai trazia sempre
presa à cintura, colocou algumas peças de roupa numa sacola de pano e retirou
um lenço preto da mãe. Depois colocou o lenço em volta da cabeça, a sacola a tiracolo
juntamente com um cantil de água, uns bolos secos e um pão - agarrou na viola,
deitou um último olhar triste aos irmãos e aos pais e saiu da tenda.
Enquanto caminhava com uns chinelos a calcar a terra
batida, limpou uma lágrima teimosa do rosto e seguiu caminho, tinha de alcançar
Portugal e encontrar Pedro.
Carla Santos Ramada
Julho de 2016
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