domingo, 11 de setembro de 2016

Nhaíla - A menina coragem


Correu desenfreada, descalça pelo chão de terra, com os cabelos soltos ao vento agreste do fim do dia.
Quando já não tinha mais forças, deixou-se cair naquela terra avermelhada, como o sangue que agora lhe corria com tamanha intensidade nas veias, parecia que ia rebentar.
Tinha ouvido perfeitamente bem, a proposta que ouvira, incluía vendê-la ao homem das barbas e este assegurava que o resto da família chegava em segurança à Europa.
O que deveria fazer, aceitar o seu destino, entregar-se aquele homem muito mais velho e garantir que a sua família conseguiria começar uma vida nova na Europa? Ou desaparecer e procurar ela uma nova vida longe de todos?
Ficou ali, deitada no chão, tipo boneca abandonada.
Deve ter adormecido, pois acordou com os primeiros raios de sol a bafejarem o seu rosto de tês morena e custou-lhe despertar para a realidade em que se encontrava.
Era ainda muito cedo, o sol estava a despontar no horizonte ainda em tom alaranjado. Nhaíla levantou-se decidida, ajeitou a túnica verde e bordada a dourado, sacudiu-lhe o pó e amarrou o cabelo com o elástico que trazia no pulso, tinha tomado uma decisão, já tinha quinze anos e não ia ser moeda de troca.
De regresso à sua tenda, encontrou todos em sono profundo, deviam ter adormecido tarde, pois deviam ter andado à sua procura - pensou e sorrateiramente, retirou umas moedas da bolsa que o pai trazia sempre presa à cintura, colocou algumas peças de roupa numa sacola de pano e retirou um lenço preto da mãe. Depois colocou o lenço em volta da cabeça, a sacola a tiracolo juntamente com um cantil de água, uns bolos secos e um pão - agarrou na viola, deitou um último olhar triste aos irmãos e aos pais e saiu da tenda.

Enquanto caminhava com uns chinelos a calcar a terra batida, limpou uma lágrima teimosa do rosto e seguiu caminho, tinha de alcançar Portugal e encontrar Pedro.

Carla Santos Ramada
Julho de 2016

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