terça-feira, 12 de abril de 2016

A Beatriz e os Amigos

Os ovos escondidos

Era Domingo de manhã e a Beatriz acordou inquieta, já tinha combinado que ia passar a manhã com os amigos no parque.
Acordou o irmão e os dois correram para o quarto dos pais.
- Pai, Mãe!!! – gritaram em uníssono.
- Já acordámos.

E lá conseguiram tirar os pais da cama e lá foram ter com os amigos ao parque de Monsanto.
Eram nove e meia da manhã e a Beatriz estava ansiosa, não parava quieta, era a primeira vez que os pais a deixavam ficar o dia inteiro com os amigos, também já tinha dez anos.
Os avós do André tinham uma casa em pleno parque e como ela adorava andar pelo meio da natureza, já andava há muito tempo a pedir aos pais para a deixarem ir passar o dia a casa dos avós do amigo.
Assim os pais lá acordaram um dia e eis que esse dia tinha finalmente chegado.
Ouvidas as recomendações finais lá se despediram dos pais e ficaram enfim sós, quer dizer, eles e os avós do André.
Depois de deixarem as coisas em casa, os cinco amigos lá foram explorar a natureza em redor da casa.
A Beatriz Ramada, daqui para a frente Beatriz R, a Beatriz A, a Joana, o Guilherme e o André eram colegas de turma mas também grandes amigos e adoravam explorar coisas novas.
A manhã estava primaveril, ouviam-se os grilos e os pássaros a chilrearem nas árvores, cheirava a terra húmida ainda do orvalho que se percebia nas ervas molhadas do chão.
O André seguia á frente, pois conhecia bem aqueles caminhos e tinha prometido ao avô que não se afastava muito e ao meio dia estavam em casa, de qualquer modo levaram telemóvel para o caso de ser preciso.
- Olha!!! Exclamou a Joana, o que é aquilo que está ali? Apontou para uma árvore.
- Ó sua tonta!!! São só umas pinhas.
- Parecia um animal que estava pendurado na árvore.
Riram-se todos com a observação da Joana e continuaram o caminho.
- Esperem por mim, já estou cansada, ainda vamos andar muito? Perguntou a Beatriz R. Era a que menos gostava de andar mas talvez a mais curiosa do grupo.
- Não sejas chata, resmungou o Guilherme.
-Olha, olha ali!!! De novo a Joana a apontar para uma árvore.
- O que foi agora, estás a ver mais pinhas é? Questionou a Beatriz A.
Mas a menina continuava.
- A sério!! Não façam barulho, está ali alguma coisa.
O André olhou mais atento para onde a amiga apontava.
- Sim é verdade, está ali um animal pequenino, não o assustem.
- Chiuuu!!! Ordenou a Beatriz R. já mais interessada.
- É um esquilo.
- A sério?
- Sim, afirmou muito seguro o André.
Ficaram os cinco parados e em silêncio a observar o bichinho, mas este logo deu conta da companhia e desapareceu.
- Que giro, vi um esquilo. As meninas ficaram muito entusiasmadas e foram um grande bocado a falar do assunto.
- Já vos disse que estão a ficar chatas, não se calam com a história do esquilo.
- Ó Guilherme pá não sejas assim, resmungou a Beatriz R.
- Também acho, devolveu a Beatriz A.
Uns metros mais á frente, as meninas, mais uma vez a fugir às regras e a saírem da estrada de terra batida para se irem enfiar pelo meio dos fetos e das urzes que começavam a deixar abrir umas flores amarelas.
- Venham para aqui. Berrou o André, qual Capitão sempre preocupado em manter a tripulação junta.
Mas elas teimosas, nem lhe deram ouvidos.
- Vocês vão perder-se, disse o Guilherme.
Já mais ao longe, ouviu-se:
- Esperem aí por nós.
Sem grande vontade, lá ficaram eles plantados no meio do caminho, esperando as donzelas.
- Venham cá!!! Estão a ouvir?
-Olha são elas, estão a chamar-nos, espero que não se tenham magoado.
- Achas?? Retorquiu o Guilherme, despreocupado.
Lá se enfiaram pelo meio do mato em busca dos sons que elas iam fazendo.
- Bolas que vocês vieram para longe, reclamou o André.
- Mas o que estão a fazer as três aí agachadas?
- Devem estar a fazer chichi, riu-se o Guilherme.
- Não sejam parvos, disse a Beatriz R, venham cá ver.
Ao aproximarem-se viram um ninho com três ovos pequeninos castanhos com pintas pretas.
- Isso é um ninho, mas onde anda a mãe?
- São ovos de quê? São tão pequenos? Inquiriu a Joana
- De galinha não são, esses são maiores, atalhou a Beatriz R.
- Escutem, estou a ouvir um barulho, disse André.
Voltaram-se á procura de onde vinha o barulho e encontraram uma ave pequena, encolhida nomeio dos fetos.
- Ó coitadinha, parece que está doente.
- Pois e deve ser a dona dos ovinhos.
- Não sei que ave é, disse o André, mas tenho uma ideia.
E assim resolveram trazer o ninho com os ovos e a pobre ave para casa do avô, de certeza que este saberia que ave era e ia ajudá-la.
O caminho de volta para casa foi muito devagarinho com medo de deixarem cair o ninho ou de magoarem mais a ave.
Ao chegarem a casa, todos correram para mostrar ao avô o que tinham encontrado.
Depois de colocarem o ninho e a mãe numa gaiola, todos se sentaram em silêncio para ouvir as explicações do avô.
Aquela ave é uma coderniz, é da família das galinhas mas mais pequena e não é uma ave doméstica, por isso é difícil tê-la a viver muito tempo presa numa gaiola.
- Então quer dizer que temos de a soltar?
- Oh! Não podemos ver nascer os seus filhotes? Perguntou a Beatriz R.
- Tenho muita pena, mas assim que ela estiver melhor temos de a voltar a colocar no seu ambiente, não vivem bem assim, vai acabar por morrer, percebem?
Os meninos ficaram tristes, mas entenderam e pelo menos ainda podiam cuidar dela durante o dia.
Passaram a tarde a olhar para a gaiola, estavam curiosos e preocupados com aquela pequena ave. Deram-lhe água, comida e até lhe puseram um nome.
- Então se todos estão de acordo, vai chamar-se Nica.
E assim se passou a tarde.
Quando regressou a casa a Beatriz R. vinha cansada mas cheia de novas histórias que podia escrever, pintar e contar aos pais e ao mano mais novo.
- Pais, obrigado por me deixarem passar o dia com os meus amigos, adorei.
A Beatriz estava ansiosa por contar todas as aventuras que tinha vivido ao irmão mais novo, mas estava tão cansada que adormeceu no carro a caminho de casa.
Iria com certeza sonhar com todas aquelas aventuras.




Carla Santos Ramada

10 Abril de 2016