Os ovos escondidos
Era Domingo de manhã e a Beatriz acordou inquieta, já
tinha combinado que ia passar a manhã com os amigos no parque.
Acordou o irmão e os dois correram para o quarto dos
pais.
- Pai, Mãe!!! – gritaram em uníssono.
- Já acordámos.
E lá conseguiram tirar os
pais da cama e lá foram ter com os amigos ao parque de Monsanto.
Eram nove e meia da manhã
e a Beatriz estava ansiosa, não parava quieta, era a primeira vez que os pais a
deixavam ficar o dia inteiro com os amigos, também já tinha dez anos.
Os avós do André tinham
uma casa em pleno parque e como ela adorava andar pelo meio da natureza, já
andava há muito tempo a pedir aos pais para a deixarem ir passar o dia a casa
dos avós do amigo.
Assim os pais lá acordaram
um dia e eis que esse dia tinha finalmente chegado.
Ouvidas as recomendações
finais lá se despediram dos pais e ficaram enfim sós, quer dizer, eles e os
avós do André.
Depois de deixarem as
coisas em casa, os cinco amigos lá foram explorar a natureza em redor da casa.
A Beatriz Ramada, daqui
para a frente Beatriz R, a Beatriz A, a Joana, o Guilherme e o André eram
colegas de turma mas também grandes amigos e adoravam explorar coisas novas.
A manhã estava primaveril,
ouviam-se os grilos e os pássaros a chilrearem nas árvores, cheirava a terra
húmida ainda do orvalho que se percebia nas ervas molhadas do chão.
O André seguia á frente,
pois conhecia bem aqueles caminhos e tinha prometido ao avô que não se afastava
muito e ao meio dia estavam em casa, de qualquer modo levaram telemóvel para o
caso de ser preciso.
- Olha!!! Exclamou a
Joana, o que é aquilo que está ali? Apontou para uma árvore.
- Ó sua tonta!!! São só
umas pinhas.
- Parecia um animal que
estava pendurado na árvore.
Riram-se todos com a
observação da Joana e continuaram o caminho.
- Esperem por mim, já
estou cansada, ainda vamos andar muito? Perguntou a Beatriz R. Era a que menos
gostava de andar mas talvez a mais curiosa do grupo.
- Não sejas chata, resmungou
o Guilherme.
-Olha, olha ali!!! De novo
a Joana a apontar para uma árvore.
- O que foi agora, estás a
ver mais pinhas é? Questionou a Beatriz A.
Mas a menina continuava.
- A sério!! Não façam
barulho, está ali alguma coisa.
O André olhou mais atento para
onde a amiga apontava.
- Sim é verdade, está ali
um animal pequenino, não o assustem.
- Chiuuu!!! Ordenou a
Beatriz R. já mais interessada.
- É um esquilo.
- A sério?
- Sim, afirmou muito
seguro o André.
Ficaram os cinco parados e
em silêncio a observar o bichinho, mas este logo deu conta da companhia e
desapareceu.
- Que giro, vi um esquilo.
As meninas ficaram muito entusiasmadas e foram um grande bocado a falar do
assunto.
- Já vos disse que estão a
ficar chatas, não se calam com a história do esquilo.
- Ó Guilherme pá não sejas
assim, resmungou a Beatriz R.
- Também acho, devolveu a
Beatriz A.
Uns metros mais á frente,
as meninas, mais uma vez a fugir às regras e a saírem da estrada de terra
batida para se irem enfiar pelo meio dos fetos e das urzes que começavam a
deixar abrir umas flores amarelas.
- Venham para aqui. Berrou
o André, qual Capitão sempre preocupado em manter a tripulação junta.
Mas elas teimosas, nem lhe
deram ouvidos.
- Vocês vão perder-se,
disse o Guilherme.
Já mais ao longe,
ouviu-se:
- Esperem aí por nós.
Sem grande vontade, lá
ficaram eles plantados no meio do caminho, esperando as donzelas.
- Venham cá!!! Estão a
ouvir?
-Olha são elas, estão a
chamar-nos, espero que não se tenham magoado.
- Achas?? Retorquiu o
Guilherme, despreocupado.
Lá se enfiaram pelo meio
do mato em busca dos sons que elas iam fazendo.
- Bolas que vocês vieram
para longe, reclamou o André.
- Mas o que estão a fazer
as três aí agachadas?
- Devem estar a fazer
chichi, riu-se o Guilherme.
- Não sejam parvos, disse
a Beatriz R, venham cá ver.
Ao aproximarem-se viram um
ninho com três ovos pequeninos castanhos com pintas pretas.
- Isso é um ninho, mas
onde anda a mãe?
- São ovos de quê? São tão
pequenos? Inquiriu a Joana
- De galinha não são,
esses são maiores, atalhou a Beatriz R.
- Escutem, estou a ouvir
um barulho, disse André.
Voltaram-se á procura de
onde vinha o barulho e encontraram uma ave pequena, encolhida nomeio dos fetos.
- Ó coitadinha, parece que
está doente.
- Pois e deve ser a dona
dos ovinhos.
- Não sei que ave é, disse
o André, mas tenho uma ideia.
E assim resolveram trazer
o ninho com os ovos e a pobre ave para casa do avô, de certeza que este saberia
que ave era e ia ajudá-la.
O caminho de volta para
casa foi muito devagarinho com medo de deixarem cair o ninho ou de magoarem
mais a ave.
Ao chegarem a casa, todos correram
para mostrar ao avô o que tinham encontrado.
Depois de colocarem o
ninho e a mãe numa gaiola, todos se sentaram em silêncio para ouvir as
explicações do avô.
Aquela ave é uma coderniz,
é da família das galinhas mas mais pequena e não é uma ave doméstica, por isso
é difícil tê-la a viver muito tempo presa numa gaiola.
- Então quer dizer que
temos de a soltar?
- Oh! Não podemos ver
nascer os seus filhotes? Perguntou a Beatriz R.
- Tenho muita pena, mas
assim que ela estiver melhor temos de a voltar a colocar no seu ambiente, não
vivem bem assim, vai acabar por morrer, percebem?
Os meninos ficaram
tristes, mas entenderam e pelo menos ainda podiam cuidar dela durante o dia.
Passaram a tarde a olhar
para a gaiola, estavam curiosos e preocupados com aquela pequena ave. Deram-lhe
água, comida e até lhe puseram um nome.
- Então se todos estão de
acordo, vai chamar-se Nica.
E assim se passou a tarde.
Quando regressou a casa a
Beatriz R. vinha cansada mas cheia de novas histórias que podia escrever,
pintar e contar aos pais e ao mano mais novo.
- Pais, obrigado por me
deixarem passar o dia com os meus amigos, adorei.
A Beatriz estava ansiosa
por contar todas as aventuras que tinha vivido ao irmão mais novo, mas estava
tão cansada que adormeceu no carro a caminho de casa.
Iria com certeza sonhar
com todas aquelas aventuras.
Carla Santos
Ramada
10 Abril de
2016