segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A rapariga que fui

O tempo não afasta os meus passos de ti, a minha grande paixão
Mas a intensidade desse amor parece que fugiu,
Escapou-me por entre os dedos da mão.
Como posso suportar esta dor,
Este coração triste parece que deixou de bater
Como posso viver os meus dias assim,
Sabendo que não vou voltar a amar-te com todo o meu ser
Saudades, meu Deus de sentir o meu corpo todo vibrar
Só de te ver chegar e juntos passar tardes inteiras a amar
A sentir os nossos corpos suados e cansados e não haver horas para terminar.
Que saudades de voltar a ser assim,
Sem idade,
Sem tempo,
Sem cansaço
Sem medo
Quero ó tempo que me leves de volta a todos aqueles momentos
Em que sem pudores, sem preocupações, sem malícia me deixava amar
Em qualquer sítio e em qualquer lugar.
Oh saudade, que doí e faz ferida dentro do meu triste e envelhecido ser
Quero que os meus sonos sejam profundos,
Para nos meus sonhos eu poder voltar a ser,
Aquela rapariga, cheia de força, de alegria e de genica
Ser capaz de voltar a amar o meu amor,

Como quando ainda não sabia o que a palavra saudade significa.

Carla Santos Ramada
In a colectânea "Apenas Saudade" da Papel d'Arroz

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Os empregos da mãe

Sábado à tarde, estou enfiada na cozinha a preparar o jantar (para mim não é nenhum sacrifício) quando a minha filha vem ter comigo e se encosta à bancada a olhar para o que estava a fazer.
- Então? Queres alguma coisa?
- Não, estou só a ver-te cozinhar...
- Ah, então podes continuar aí.
- Sabes mãe, tu és muito boa cozinheira.
- Achas filha? Obrigada.
- Sim, tu tens três profissões.
Parei de fazer o que estava a fazer e olhei espantada e intrigada com o que vinha por aí.
- Ai é?
- Sim (respondeu muito decidida)
- Olha és mãe, és boa cozinheira e depois tens aquela outra que tu já me explicaste mas que eu não percebi muito bem.
Sorri.
- Pois, é isso filha.
Deu-me um beijo e foi-se embora.
Sem querer disse uma grande verdade, ser MÃE é mesmo uma grande profissão e tem uma remuneração que mais nenhuma consegue, AMOR.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Os dilemas cá de casa

Nove e um quarto da noite, consegui finalmente colocar os mais novos na cama. A desculpa é sempre a mesma " amanhã é dia de escola e tem de acordar cedo".
Sento-me no sofá (acho que já não me sentava lá há muito tempo).
- Ok, agora talvez possa ver uma série que ando a ver se consigo acabar desde o ano passado.
Foram breves estes devaneios de mãe - "Mãe!!! Está a doer-me a perna.... mas deixa estar é só porque estou a crescer."
Levantei-me mas voltei a sentar-me, pensei olha que bom que chegou a essa conclusão sózinha, mas mais uns devaneios de mãe, conforme me sentei voltei a levantar-me interrompida por um choro estridente do mais novo.
- Então o que se passa? Estás a chorar porquê? Sentei-me na beira da cama para ver se o conseguia acalmar pois chorava com tanta convicção que tive de esperar algum tempo até que conseguisse perceber o que o afligia.
- Mãe, mãe!!! (e soluçava) é que a mim não me está a doer nada...
- Então ainda bem, isso é mau?
Continuava a chorar e por entre soluços disse:
- Pois porque a mim não me doí nada e assim não vou crescer!!!!
Oh paciência de mãe quase ás dez da noite, disfarçei o meu riso e tentei ser o mais convincente possível:
- Claro que vais crescer, não te preocupes com isso, não é preciso doer-te nada para cresceres....
- Mas a mana disse (resmungou ainda pouco convencido, pois a mana mais velha tem sempre razão)
- Pois a mana já está é com sono.

E foi assim, fico a aguardar os próximos dilemas....