domingo, 17 de janeiro de 2016

O Nascer do Sol


A noite começou no sítio do costume, no Floresta, um café mítico onde quando caía a noite tudo se transformava e onde o barulho das conversas e gargalhadas se misturava com o cheiro das tostas mistas, dos shots e do fumo do tabaco.
Seguiu-se o Bar Seven, Isabel passou a noite a conversar com Carlos quando foi interpelada pela irmã.
Não vês que ele também tem namorada e toda a gente já comenta que vocês andam enrolados, achas bem??
Epá não me chateis, só estou a divertir-me.
A irmã voltou para junto dos amigos e Carlos perguntou-lhe se a irmã estava chateada. Não encontrou resposta e encostou o seu corpo ao de Isabel, ela estremeceu sentiu o coração agitar-se mas não se afastou, era como se os seus pés estivessem colados ao chão.
Oh! Encolheu os ombros, sim um bocadinho retorquiu e engoliu o resto da cerveja que tinha no copo pois não sabia mais o que dizer.
Ele encostou a boca ainda húmida da bebida e segredou, eu também sei que está errado, mas não me consigo afastar de ti, tu hipnotizas-me.
Isabel inclinou a cabeça para cima e olhou para ele, nesse instante as suas bocas uniram-se num beijo sôfrego.
Aquilo não podia ter acontecido, a cabeça dela estava a mil, tentou livrar-se dos braços que a abraçavam mas Carlos disse-lhe que não precisava de ficar assim, estendeu-lhe a mão e pediu que a que a seguisse.
Foi com ele até ao carro, um mercedes branco topo de gama, só o carro já impunha respeito, onde vamos?
Vais ver o nascer do sol mais lindo que alguma vês viste.
O Carro imobilizou-se junto ao miradouro, o céu tinha uma cor alaranjada, sinal de que o nascer do sol estava próximo, estavam em silêncio mas o corpo de Isabel estava numa agitação pouco disfarçável.
Os bancos do mercedes reclinaram-se como se estivessem em modo automático e ela entregou-se aquela paixão.
Ficaram ali longos momentos em silêncio, os corpos ainda suados a ver a manhã despertar, era de facto o nascer do sol mais lindo que alguma vês vira.
Isabel, Isabel!!! Estás a ouvir-me ??

Nesse momento percebeu que estava a meio da aula de microbiologia e olhou ainda meio espantada para o seu corpo e depois para a colega que a chamava baixinho, desanimada suspirou e fez um aceno de cabeça à colega que a chamava de volta à realidade.

Carla Santos Ramada - Abril 2015
Conto publicado em "Um Livro Num Dia" da Chiado Editora

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