sexta-feira, 8 de julho de 2016

O Poder do Amor


Desde que a solidão tomou conta desta casa, da minha vida e de mim que (sobre) vivo com esta frase a fazer eco na minha cabeça “ Prometo-te que, quando morrer, te visitarei…”.
Não consigo encontrar explicação para a tua partida tão prematura, mas agora entendo toda a tua preocupação comigo (que ás vezes até me tirava do sério).
 Tu sabias que ias partir e só eu não entendi (ou não quis entender).

- Oh Maria, que me dizes de estas férias grandes, fazermos uma daquelas viagens de sonho? - Diz lá o país que mais gostavas de ir, que aqui o teu Romeu leva-te lá.
- Não digas disparates homem!! Onde é que vamos arranjar o dinheiro? Não me dizes??
- Isso arranja-se, eu peço ao patrão para fazer mais umas horitas lá na fábrica.

Bem e nessas férias lá fomos nós, saídos directamente de uma aldeia do interior esquecido de Portugal para o centro do mundo, Veneza.
Gastámos mais do que as tuas horitas na fábrica e eu voltei preocupada com as nossas economias, mas tu parecias sempre optimista – Deixa lá, vamos conseguir amealhar mais um dinheirinho, o que importa é que te levei a conhecer mundo e prometo-te que, quando morrer, te visitarei….
Por aqui na aldeia acham que devia fazer o luto e como uma boa cristã devia vestir-me de preto integral, mas tu eras sempre tão alegre meu amor que não consigo….
Prefiro enfrentar as críticas ferozes da minha família e das beatas (que parece que não tem mais que fazer do que controlar por onde eu ando). Irónico, nem tu o fazias.
Por aqui nada acontece e a solidão ganha outra forma, torna-se mais volumosa.
Tentaste tantas vezes que eu tirasse a carta, para como tu dizias “eu ir a assapar por aí com as minhas amigas” agora vou ter de vender o velhinho Opel corsa que já está a ganhar erva à volta dos pneus.
Só passaram uns escassos três meses desde que vivo nesta prisão, qual solitária, para onde nos enviam quando nos portamos mal.

Batem no portão com força e acordo da letargia em que me encontrava, sentada nas escadas do pátio.
- Quem é?
- É o carteiro senhora, tenho cartas para si.
- Um momento.
Não sei porquê, levantei-me e dirigi-me ao portão para ir buscar a correspondência. Nunca mais o tinha feito desde que partiste.
Invariavelmente, o carteiro passava todos os dias à mesma hora e quando trazia mais alguma carta (sim devia ser mais alguma carta de condolências) eu pedia para deixar na caixa.
Mas hoje, inconscientemente, decidi ir buscar as cartas.
Quando abri o portão e dei de caras com o senhor carteiro….
Perdi-me (ou melhor, encontrei-me).

Agora entendo claramente o significado daquela frase “Prometo-te que, quando morrer, te visitarei…”.

Obrigado meu amor.

Janeiro 2016
Carla Santos Ramada

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