Desde que a
solidão tomou conta desta casa, da minha vida e de mim que (sobre) vivo com
esta frase a fazer eco na minha cabeça “ Prometo-te que, quando morrer, te
visitarei…”.
Não consigo
encontrar explicação para a tua partida tão prematura, mas agora entendo toda a
tua preocupação comigo (que ás vezes até me tirava do sério).
Tu sabias que ias partir e só eu não entendi
(ou não quis entender).
- Oh Maria, que
me dizes de estas férias grandes, fazermos uma daquelas viagens de sonho? - Diz
lá o país que mais gostavas de ir, que aqui o teu Romeu leva-te lá.
- Não digas
disparates homem!! Onde é que vamos arranjar o dinheiro? Não me dizes??
- Isso
arranja-se, eu peço ao patrão para fazer mais umas horitas lá na fábrica.
Bem e nessas férias
lá fomos nós, saídos directamente de uma aldeia do interior esquecido de
Portugal para o centro do mundo, Veneza.
Gastámos mais do
que as tuas horitas na fábrica e eu voltei preocupada com as nossas economias,
mas tu parecias sempre optimista – Deixa lá, vamos conseguir amealhar mais um
dinheirinho, o que importa é que te levei a conhecer mundo e prometo-te que,
quando morrer, te visitarei….
Por aqui na
aldeia acham que devia fazer o luto e como uma boa cristã devia vestir-me de
preto integral, mas tu eras sempre tão alegre meu amor que não consigo….
Prefiro
enfrentar as críticas ferozes da minha família e das beatas (que parece que não
tem mais que fazer do que controlar por onde eu ando). Irónico, nem tu o
fazias.
Por aqui nada
acontece e a solidão ganha outra forma, torna-se mais volumosa.
Tentaste tantas
vezes que eu tirasse a carta, para como tu dizias “eu ir a assapar por aí com
as minhas amigas” agora vou ter de vender o velhinho Opel corsa que já está a
ganhar erva à volta dos pneus.
Só passaram uns
escassos três meses desde que vivo nesta prisão, qual solitária, para onde nos
enviam quando nos portamos mal.
Batem no portão
com força e acordo da letargia em que me encontrava, sentada nas escadas do
pátio.
- Quem é?
- É o carteiro
senhora, tenho cartas para si.
- Um momento.
Não sei porquê,
levantei-me e dirigi-me ao portão para ir buscar a correspondência. Nunca mais
o tinha feito desde que partiste.
Invariavelmente,
o carteiro passava todos os dias à mesma hora e quando trazia mais alguma carta
(sim devia ser mais alguma carta de condolências) eu pedia para deixar na
caixa.
Mas hoje,
inconscientemente, decidi ir buscar as cartas.
Quando abri o
portão e dei de caras com o senhor carteiro….
Perdi-me (ou
melhor, encontrei-me).
Agora entendo claramente
o significado daquela frase “Prometo-te que, quando morrer, te visitarei…”.
Obrigado meu
amor.
Janeiro 2016
Carla Santos Ramada
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